Um
terço de tudo que se come no mundo depende da polinização realizada pelas
abelhas. É o que mostram dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação
e Agricultura (FAO/ONU), que aponta as abelhas como agentes fundamentais
na promoção da segurança alimentar e, de outro lado, destaca a preocupação
com as evidências da diminuição da população desses polinizadores. Uma das
causas dessa diminuição é o uso de pesticidas nas plantações.
A influência
dos defensivos agrícolas sobre as abelhas e o consequente impacto na produção
de alimentos é o foco das pesquisas da professora Roberta Cornélio Ferreira
Nocelli, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Campus Araras.
Um dos objetivos do trabalho é o mapeamento dos apiários em todo o território brasileiro, bem como das produções agrícolas próximas, visando compreender a interação entre apicultores e agricultores e promover o cultivo saudável de abelhas e alimentos.
Um dos objetivos do trabalho é o mapeamento dos apiários em todo o território brasileiro, bem como das produções agrícolas próximas, visando compreender a interação entre apicultores e agricultores e promover o cultivo saudável de abelhas e alimentos.
O Brasil é o país com a maior diversidade de abelhas, com mais de duas mil
espécies nativas já descritas. É, portanto, um importante espaço para pesquisar
o impacto dos agrotóxicos nas abelhas e os consequentes efeitos nos serviços
que elas prestam.
Nocelli explica que a contaminação das abelhas pelos defensivos
agrícolas ocorre basicamente de duas formas: pelo contato direto, enquanto
as abelhas voam entre as partículas de defensivos; e pela ingestão de pólen
e néctar das flores contaminadas. A segunda forma é a mais nociva para os
insetos, pois as moléculas são levadas para dentro das colônias, contaminando
todas as abelhas.
Os estudos desenvolvidos por Roberta Nocelli investigam as interações das
substâncias presentes nos agrotóxicos em vários órgãos das abelhas, como,
por exemplo, no cérebro desses animais. Um dos efeitos observados é a perda
da orientação, o que faz com que muitas abelhas não retornem às colmeias
e morram.
"A partir do momento em que entendemos os efeitos de cada substância
utilizada nas plantações, podemos orientar os fabricantes dos defensivos
para a utilização de moléculas menos tóxicas para as abelhas, e também para
formas de aplicação menos danosas.
"Entender a biologia da abelha nos serve
de respaldo para promover esse diálogo, uma vez que sabemos que a completa
interrupção no uso de defensivos é uma realidade muito distante", afirma
a pesquisadora.
O trabalho compreende também um projeto de extensão, que
atua com associações de apicultores para implantar um sistema de monitoramento
das populações de abelhas, de forma a identificar a mortandade dos insetos
e desenvolver metodologias de manejo mais adequadas. Entre os objetivos do
projeto, está a promoção da convivência harmônica entre apicultores e agricultores.
Uma das atividades desenvolvidas é o treinamento para a aplicação dos agrotóxicos,
que, com base nas pesquisas desenvolvidas, é planejada para minimizar os
prejuízos às populações de insetos.
Nocelli integra uma rede de pesquisa formada por pesquisadores dos campi
Araras e Sorocaba da UFSCar e da Unesp de Rio Claro, que desde os anos 1970
estuda a ecotoxicologia de abelhas.
O grupo tem participado ativamente na
construção da Iniciativa Internacional para a Conservação e Uso Sustentável
de Polinizadores, coordenada pela FAO, e de outras iniciativas internacionais
relacionadas ao conhecimento sobre os efeitos dos pesticidas sobre os polinizadores
e alternativas de proteção desses insetos, manutenção da biodiversidade e
da segurança alimentar.
Nocelli pretende também criar uma central de acidentes
com abelhas, para que produtores que tiverem notícias de mortes de abelhas
possam relatar os episódios e, assim, contribuir para o monitoramento.
Fonte: UFSCAR