Pesquisa investiga relação dos jovens brasileiros com educação e mercado de trabalho




Trabalho desenvolvido no Campus Sorocaba da UFSCar mostra trajetórias educativas e laborais de jovens com idades entre 15 e 29 anos

Um estudo conduzido no Centro de Ciências Humanas e Biológicas (CCHB) do Campus Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) investiga a relação de jovens brasileiros com a educação e o trabalho.

Realizada pela docente Maria Carla Corrochano, do Departamento de Ciências Humanas e Educação (DCHE), a pesquisa evidencia, a partir da análise de dados de Censo (IBGE) e da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD/IBGE), que a relação da juventude atual com a educação e o trabalho deve ser compreendida nos marcos de um contexto mais amplo de transformações que tiveram lugar nas últimas décadas, sobretudo em países como o Brasil.

A pesquisa pertence à mesma linha que a professora usou em sua tese de doutorado, “O trabalho e sua ausência: narrativas de jovens do Programa Bolsa Trabalho no município de São Paulo”, defendida em 2008, na Faculdade de Educação da USP.

“Apresento questões concernentes às trajetórias educativas e laborais de moças e rapazes e suas possíveis articulações, focalizando dados da população com idade entre 15 e 29 anos”, explica a professora.

No campo do trabalho, segundo a docente, os jovens brasileiros estão transitando para a vida adulta como membros de uma geração que nasceu e está vivendo seu presente em dois contextos significativamente diversos.

“Nasceram na década de 1990, no ápice de um período marcado pela instabilidade econômica, pela diminuição dos postos de trabalho, especialmente do emprego formal e assalariado, pela introdução de mecanismos de flexibilização das relações trabalhistas e dos rendimentos e pelos reduzidos rendimentos do trabalho em termos reais.

Hoje, vivenciam outro cenário, caracterizado pela expansão das oportunidades de trabalho, especialmente formal, que se acentua como tendência desde meados dos anos 2000 e de recuperação da renda da população”, compara.

Entretanto, apesar da expansão do Ensino Médio no País nos anos 1990 e deste novo contexto indicar possibilidades de novos projetos, a docente ressalta também a repetição de muitos dos problemas a que estão submetidos os jovens, principalmente pelas condições em que vivem.

“Os dados apresentados sinalizam que persistem os traços desiguais que caracterizam os percursos e trajetórias juvenis, evidenciando, em especial, desigualdades regionais, de classe, de cor e raça e de gênero.”

A transição para novos modelos políticos, ocorrida durante o século XX em várias nações das Américas, é outro fator importante de influência em várias transformações observadas nas perspectivas, demandas e necessidades dos jovens.

“Na América Latina, desde início dos anos 80, os processos de governos democráticos foram restabelecidos e novas Constituições foram instituídas, contra um pano de fundo de memórias públicas de experiências políticas de repressão e de injustiça. No entanto, ainda persistem inúmeras desigualdades nesses países, tensões e conflitos desses passados políticos”, afirma a docente.

Maria Carla Corrochano produziu artigo científico sobre o tema e o apresentou no 32° Congresso Internacional da Associação de Estudos Latino-Americanos (Latin American Studies Association (LASA), realizado, neste ano, na cidade de Chicago, nos Estados Unidos, entre os dias 21 e 25 de maio. No Congresso, cujo tema era "Democracia e Memória", Corrochano fez parte da mesa organizada por uma rede de estudiosos da juventude na América Latina, especialmente aqueles preocupados com as trajetórias educativas e laborais de jovens desta região do mundo.

Estavam presentes no evento pesquisadores da Europa, África, América Latina e de outros continentes. “Chamou minha atenção o grande número de trabalhos buscando interpretar as recentes manifestações que estão ocorrendo no Brasil, tanto as manifestações de junho de 2013 quanto os "rolezinhos" protagonizados por jovens das periferias de várias cidades do País”, lembra Maria Carla, que foi ao evento como docente da UFSCar e através de vínculo com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Associação de Estudos Latino-Americanos - Trata-se de uma associação profissional composta por indivíduos e instituições. Com mais de sete mil sócios, sendo que 45% deles residem fora dos Estados Unidos, reúne especialistas de todas as disciplinas e profissões que dedicam-se ao estudo da América Latina. Possui, entre as muitas áreas temáticas que investiga, temas como "Povos Africanos e Indígenas", "Defesa, Violência e (In)Segurança", "Direitos Humanos e Memórias" e "Transnacionalismo e Globalização". Com mais de 900 sessões, incluindo plenárias e reuniões informais, o Congresso Internacional, realizado anualmente, é o principal fórum mundial para discussão de temas relativos à América Latina e Caribe. O próximo Congresso será realizado na cidade de San Juan, em Porto Rico, entre 27 e 30 de maio de 2015.



 Fonte: Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR