Gestão Pública do Turismo


A intervenção pública em qualquer campo da realidade exige um conjunto de informações sobre suas características, suas necessidades, seus aspectos positivos e negativos, seus pontos fortes e fracos, para que se possa decidir com conhecimento de causa onde e como se deve agir.

No caso da política pública em turismo e no caso particular do Brasil, esta condição na maioria das vezes não está presente. Uma das causas prováveis é o entendimento de que o turismo é uma atividade secundária e os problemas que acarreta são de pouca relevância quando comparados com aqueles de outras áreas de políticas públicas como saúde e educação, por exemplo. É uma visão equivocada e antiquada do que é o turismo.

O turismo atualmente é uma das principais atividades econômicas do planeta, promovendo o maior movimento de pessoas que já ocorreu história da humanidade. Quando bem planejado pode se tornar poderosa força de transformação social, econômica e ambiental. Somente a não compreensão do real significado da atividade turística pode explicar – mas não justificar – a ausência de mecanismos de monitoramento do turismo na maioria dos municípios brasileiros.

Os esforços para a criação de instrumentos de acompanhamento do desenvolvimento turístico de uma localidade se concentram naqueles locais onde o turismo tornou-se significativo como gerador de renda local. Mesmo assim, com frequência são os aspectos mais visíveis da atividade que são contemplados, como o perfil da demanda, a satisfação do turista ou pontos fortes e fracos da oferta.

São raros os estudos que estabelecem a relação do turismo com outros setores da economia ou que reflitam sobre seu impacto no desenvolvimento local. O Brasil é carente de estudos sobre os segmentos produtivos que se beneficiam da atividade turística, que dimensionem o impacto da cadeia produtiva local do turismo sobre a satisfação da comunidade, os benefícios culturais, a relação com o meio ambiente, as mudanças sociais provocadas, a reorganização do espaço urbano e rural entre outros.

A preocupação com os aspectos mais visíveis da atividade turística é mais facilmente mensurável e, embora importante, não deve ser considerada de forma isolada numa avaliação da sustentabilidade do desenvolvimento turístico, pois sustentabilidade se encontra estreitamente relacionada com os benefícios socioculturais, econômicos e ambientais para a população residente, assim como a satisfação percebida pelo turista quando da visita e a lembrança positiva que este levará para o seu local de origem.

O turismo como fenômeno social produz efeitos em todos os setores da sociedade, tanto diretos como indiretos, gera inovações e também rupturas na ordem social. Alguns destes impactos são visíveis de imediato, outros só são perceptíveis ao longo do tempo. No entanto, entre as atividades humanas o turismo é, em tempos de paz, o fator mais dinâmico na geração de mudanças. E o aspecto mais positivo deste fenômeno é que pode ser controlado através do planejamento, fazendo do turismo uma importante ferramenta para o desenvolvimento.

É no campo do turismo que inúmeras atividades têm encontrado lastro para seu próprio crescimento, como a história, a arqueologia, a paleontologia, as artes, a proteção ambiental, a música popular e a erudita, a gastronomia entre tantas outras. A atividade provoca, por outro lado, um incremento das interações entre diferentes culturas, fortalecendo suas identidades e acentuando a difusão cultural, aumentando a tolerância, o respeito e o reconhecimento da diversidade cultural.

Essa complexidade do turismo, sua intersecção com diversos setores e atividades da sociedade permite conceber a existência de uma rede de relações turísticas que constituem um sistema turístico. Isto leva à necessidade de distinguir claramente o sistema turístico e as políticas públicas voltadas para ele. Esse sistema é um complexo de relações e organizações de uma sociedade que o constituem. Não se pode reduzi-lo ao campo das intervenções do Estado e suas instituições, nem às ações do mercado; constitui um sistema integrado e como tal deve ser abordado para se viabilizar como impulsionador do desenvolvimento.

Autoria: Reinaldo Dias é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Campinas. Doutor em Ciências Sociais e Mestre em Ciência Política pela Unicamp. É especialista em Ciências Ambientais.